domingo, 2 de agosto de 2015

Uma nova onda de filmes conservadores?


Como o sucesso de filmes como Sniper Americano de Clint Eastwood pode encorajar diretores a produzir mais filmes com valores conservadores?

De acordo com um relatório emitido pela Movieguide, uma revista eletrônica norte-americana especializada em cinema (e de orientação conservadora), filmes com valores conservadores (implícitos ou explícitos) fizeram três vezes mais sucesso com o público em geral do que filmes "mais liberais" (liberal no sentido americano da palavra, que fique claro) no ano passado (2014), uma média de 71.490 mil dólares por filme contra 22.480 mil dólares do outro lado.

Antes de começar a avaliar o fenômeno vou deixar claro algumas coisas:

Há muita discussão sobre o que considerar ou não num filme para ser conservador. A lista de "melhores filmes de direita" segundo a IMDb, uma lista que incluía de "300" a "Forrest Gump", deixou algumas palavras-chaves para entendermos um filme "de direita": Patriotismo, valores familiares, honra, trabalho e luta pela liberdade. O que torna a lista questionável. Patriotismo é um valor cultuado na esquerda latino-americana (Venezuela e Cuba são exemplos). Honra, valores familiares e trabalho hoje são cultuados mais entre a direita mas a velha esquerda tem também certo apreço por eles, e liberdade ambos juram defender.

Julgar um filme ser conservador ou liberal pelo conteúdo em si é difícil. Como a peça de arte atinge a dimensão simbólica ela é passível de discussão e interpretações subjetivas (desde que bem embasadas) dão peso ao veredito. Eu, por exemplo, acho Ninfomaníaca bastante conservador, mas sei que sou minoria - quase uma voz solitária no deserto. Deixo, então, o campo de discussão livre e não imponho isso como uma sentença.

Vamos considerar "conservador" ou "liberal" a opinião geral das pessoas e quais grupos o filme irritou ou agradou.

Acho que não tem como não notar o quanto Sniper Americano desagradou a esquerda, não apenas nos EUA mas ao redor do mundo. Iremos considerá-lo então "um filme conservador", embora possa haver controversas pontuais.

O conteúdo conservador do Sniper Americano não fez sucesso se ancorando ao "conservadorismo de ocasião" da promulgação do "American Way of Life", tão presente nas décadas de 70 e 80, como óbvia propaganda política anti-comunista, anti-totalitária, anti-URSS e pró-sociedade-de-consumo, mas com algo que remete às raízes mais profundas e antigas da alma americana, que era despejada em séries televisivas de Western, onde se cultuava o forte senso de justiça e dever.

Esses valores sólidos remetem a algo que desafia bastante as modas da vida artística, majoritariamente de esquerda (hoje), sobre valores sólidos de certo e errado. A esquerda, mais afeta a nuances cinzentas entre o preto e o branco, entre o certo e o errado, entre homem e mulher, entre homossexuais e heterossexuais, entre heróis e terroristas, se acha mais profundamente ligada a atmosfera do relativismo e, paradoxalmente, do conceito atual do "politicamente correto".
Valores tradicionais e separação abrupta do "que deve ser feito" e "o que não deve ser feito", ainda pintados com cores fortes e definidas do heroísmo é sempre vista como uma espécie de "fascismo".

Como bem disse Charlton Heston, ator norte-americano "das antigas": O politicamente correto é uma "tirania com boas maneiras".

Apesar da comédia ser a vítima principal do que se convencionou a chamar "patrulha do politicamente correto" vemos que há anos o cinema vem tentando executar a rubrica da gentileza e da inclusão forçada em praticamente todas suas produções. Qualquer um que saia um pouco da linha é escrachado publicamente como "a pior pessoa do mundo". Vemos isso não apenas a cada discurso entendiante do Óscar sobre a paz mundial mas também na pressão dos filmes de grande público.

Sniper Americano, que mais parece um filme de Walter "Walt" Kowalski (personagem de Clint Eastwoood em Grand Torino) do que de do próprio Clint, veio para quebrar esse clima antes que isso vire uma "espiral do silêncio" onde toda expressão cultural, que seja mais conservadora e tradicional, ou que pelo menos não seja tão submissa ao julgamento dos "justiceiros sociais", seja suprimida pelo medo da reação do público.
Quando vemos que não apenas o público quer diretores mais corajosos em assumir sua posição, doa a quem doer, mas que também esses mesmos diretores tem talento o suficiente para fazer filmes conservadores respeitáveis e bem feitos, concorde com o seu conteúdo ou não (no geral, até mesmo esquerdistas elogiaram tecnicamente o filme), podemos estar assistindo uma mudança bastante positiva de paradigmas.

Desde John Ford não vemos diretores conservadores tão talentosos nos EUA e Clint Eastwood pode muito bem ocupar esse papel. Espero que a indústria cinematográfica amadureça com isso.

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