Lá eu encontrei uma mulher quieta e atordoada com alguma coisa.
Fiquei sabendo que esta mulher teria atropelado um cão, mas estava convencida de que foi alguma criança.
Comprovadamente era um cão, mas estranhamente isso não mudava seu estado.
Ela ainda estava envolvida em culpa, e angústia.
Provavelmente a inquietação por ter atropelado "alguma coisa" na estrada escondia outra coisa.
Era usado por ela para dar vazão a uma outra angústia.
O qual ninguém sabe ao certo.
Bem.
Não fiquei muito tempo.
Tinha marcado um vôo para as Filipinas no dia seguinte.
Ao chegar naquele país me dei conta da pobreza do local, da carência de valores culturais nacionais própios pela globalização capitalista.
Lá eu me instalei perto de um cinema para adultos, que também funcionava como um bordel, administrado irônicamente por uma matriarca religiosa.
O lugar era imundo.
Vazamentos, ratos, cabras, entupimentos, sujeira e em meio disso tudo, o sexo.
O sexo se despe de todo o romantismo e poesia, não é sagrado, não é profano, é terreno, assim como defecar e urinar, uma mera necessidade fisiológica.
Das Filipinas, peguei um navio e fui para o Japão.
Chegando lá percebi um contraste brutal em relação as Filipinas.
Lá é tudo organizado, sutil, limpo. Ao menos parece.
Talvez no vilarejo japonês, em que eu me instalei, toda a sujeira era escondida, enquanto nas Filipinas estava expostas, como um furúnculo na coxa.
De qualquer forma, me senti muito confortável nesse vilarejo.
A vizinhança parecia muito simpática e educada.
Era um vilarejo bem tradicional.
Para se ter uma idéia, apenas um casal em todo o vilarejo tinha TV.
Isso era o centro das atenções das crianças que adoravam passar às tardes assistindo os campeonatos de Sumô.
Essas crianças eram muito engraçadas, se divertiam com coisas simples como flatulências.
Inocência pura.
Haviam duas em específico que me chamaram muita atenção, dois irmãos.
O irmãozinho menor imitiava em tudo o irmão mais velho, nas roupas, nos gestos, no comportamento, precisa ver, é um barato.
Eles eram os mais empolgados com a televisão do vizinho e sempre eram repreendidos pela mãe pois acreditava estar incomodando.
Chegava a mentir que iam estudar para ir assistir a bendita TV.
Estavam sempre importunando a mãe a comprar uma TV, e ela sempre se negava a adquirir uma.
Gritavam, esperneavam, e percebendo que isso não surtia efeito fizeram greve de silêncio.
Essa greve de silêncio desencadeou uma série de mal entendidos na vizinhança. Mal entendidos que no final se resolveram.
No decorrer de toda essa viagem fui atordoado pela angústia da incomunicabilidade, depois pelo incômodo da realidade, e finalmente, pela comodidade das aparências.
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