Sexta-Feira, dia 03 de Janeiro, foi a abertura do
Ciclo de Cinema Polonês no Museu da Imagem e do Som de Campinas, sob curadoria de Celso Zenaro Filho.
A abertura do ciclo se deu com o filme "A Terça Parte da Noite" (Trzecia Czesc Nocy) de Andrzej Zulawski já causando impacto, típico das propostas do curador deste ciclo, para quem o já conhece no MIS.
Muito do que me toca no filme, além do drama psicológico inerente a Guerra, o clima apocalíptico da Polônia (durante o filme são até recitados trechos do Apocalipse) é a questão da identidade.
O filme foi filmado em 1971, ou seja, o cenário do pós-guerra é exalado no próprio ambiente em que a película foi rodada, já mostrando nas arquiteturas clássicas em ruínas e nas vielas sombrias e esfumaçadas, todo o sentimento sombrio que o filme me trouxe.
A Polônia, retomada sua independência após a Primeira Guerra Mundial, não dura muito e se vê novamente ocupada pelas duas maiores máquinas de Guerra da história moderna, a saber, o exército nazista alemão e o exército vermelho da URSS.
Assim como a identidade polonesa perdida pela dupla ocupação, os personagens se mostram fragmentados e divididos, como o país.
Imaginei que esse filme como a própria Polônia.
Tentarei não dar muitas informações sobre o filme em si, mas uma breve sinopse vai ajudar a ilustrar o que quero dizer.
A trama se foca em Michael, um jovem que presencia sua mãe, sua esposa e seu filho sendo mortos por um grupo de militares.
Ao fugir para a cidade ele encontra uma antiga casa, onde encontra uma mulher prestes a dar a luz, Martha, que é muito parecida com sua esposa (mesma atriz), e decide cuidar dela e de seu filho.
Para mantê-los, ele se torna um "alimentador de piolhos" no instituo que produz vacinas contra a febre tifoide. Ele decide também resgatar John, marido de Martha, que foi preso por engano pelos nazistas, que acharam que era Michael.
Sua história se repete e se confunde aos novos encontros.
Não se trata de um simples filme sobre ocupação, ele vai muito além disso. Ele retira todo o caráter documental e da observação de "quem está de fora" e traz toda aquele terror da guerra para o âmbito pessoal do personagem principal, o que leva a crer que realidade e delírio percorrem simultaneamente o mesmo espaço.
Um casamento de duas realidades terríveis, a subjetiva (da loucura) e a objetiva (da guerra).
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