sábado, 21 de fevereiro de 2015

Crítica: Sniper Americano - Clint Eastwood



Avaliar honestamente um filme cuja boa parte dos valores eu compartilho e ainda dirigido por um homem que eu admiro em diversos aspectos (inclusive políticos) é, acreditem ou não, um sofrimento pra mim.
Sniper Americano de Clint Eastwood é esse filme.

Quase toda discussão que eu vi sobre o filme passa longe de discutir o filme.
A esquerda está evidentemente aporrinhada com o "novo John Wayne".

Muitos acusaram Sniper Americano de Clint Eastwood de ser uma exaltação estúpida do soldado americano. Engraçado é que não disseram o mesmo de filmes como "Che" de Benício del Toro. E o motivo é muito simples. O fato de alguns críticos classificarem Chris Kyle como apenas um patriota psicopata por ter matado mais de 160 pessoas durante a Guerra do Iraque e, ao mesmo tempo, glorificarem como herói Che Guevara, que matou aproximadamente umas 400 pessoas (boa parte delas no paredão de fuzilamento) diz muito sobre por que o filme sobre um é tido como um "filme que exalta a violência" e outro um filme que exalta as virtudes heroicas revolucionárias.

A crítica não é humanista, está longe disso. Ela é uma crítica ideologicamente orientada.

Ideologicamente orientada também é a crítica da direita que, basta citar uma ou outra palavra mágica, como "Deus", "família" e "pátria", já tomam o filme como genial. E quem não gosta não passa de um "esquerdista".

Desnudando todas as minhas convicções eu afirmo, já me protegendo das pedras, que esse filme é MEDIANO, no máximo razoavelmente bom para sua proposta.

Certamente é o tipo de filme que eu levaria meu filho de 12 anos pra ver, um bom filme para quem quer formar caráter dos fedelhos. Mas, falando com adultos, é um filme idealizador demais. Falta-lhe a dimensão da infâmia, sabujice e do opróbrio que é inerente a alma humana. Chris Kyle é moral e correto o tempo todo. Todos seus erros são erros justificáveis, suas fraquezas são fraquezas heróicas. Ele é quase um santo.

Não que eu não goste de santos, mas duvido muito que Kyle seja um.
Quando descobri que o filme é baseado nos próprios escritos de Kyle eu pensei comigo: "Ele REALMENTE se pinta assim na sua autobiografia? Que cara chato!"

Sobre o caráter do filme, o caráter do diretor e o meu caráter estarem mais ou menos alinhados é apenas uma feliz coincidência que me atenta. Mas deixo isso de lado. Eu acho, por exemplo, que "Menina de Ouro", outro filme do nosso amado Clint, muito mais maduro, sensível, denso, inteligente e adulto que este. E, veja só, nem compartilho com a ideia central desse filme, suposto caráter piedoso (e até necessário) da eutanásia.
Mesmo assim, consigo ser levado no drama da personagem, me jogo naquela cama e me vejo no mesmo estado vegetativo, fico aflito, travo uma guerra interna com meus valores (sou e sempre serei contra a eutanásia mas, e se eu tivesse naquela mesma situação?). Enfim, uma boa obra de arte não precisa ser um espelho dos seus valores, é bom que ela te desafie às vezes, ou você muda de ideia ou se firma na sua tendo mais compaixão.

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