A Ancine adora detonar o cinema brasileiro. Primeiro é a cota de tela para filme nacional. Agora é o possível limite de 30% de ocupação das salas de um complexo para qualquer filme.
O motivo real é que algum figurão teve chilique ao ver que, prevendo a alta demanda popular, os cinemas deram muito espaço ao novo Jogos Vorazes. Só que como não poderia deixar de ser, inventaram um arremedo de explicação econômica. Diz o presidente da Ancine Manoel Rangel:
"O espectador que encontrar apenas um título em quase 50% das salas desiste. É menos ingresso sendo vendido e redução do hábito do cinema."
Ora, na situação atual, sem regulamentação, o cinema que achar que pode vender mais se colocar Jogos Vorazes em menos salas já pode fazê-lo. Por que não deixar que diferentes cinemas adotem diferentes estratégias, passem filmes diferentes, aumentem o leque ou o reduzam para um só, e assim melhor se adequem aos gostos do público? Dessa forma, estratégias certas são premiadas (lucro) e as equivocadas são punidas (prejuízo). As melhores são copiadas - sem impedir que caminhos alternativos e nichos também sejam explorados - até que alguém inove mais uma vez. Esse é o jeito do mercado.
A Ancine prefere chutar um valor (dica: não existe a tal "porcentagem ideal" que o dono do Cine Belas Artes quer - e vai - definir para seus concorrentes no Cinermark) e obrigar todos a segui-lo, prejudicando não só os cinemas mas também os espectadores.
O resultado de uma lei dessas é que, num próximo blockbuster, haverá menos salas e horários para vê-lo. Isso significará mais filas, mais gente que não consegue assistir, e/ou ingresso mais caro. Mas também, é bem-feito: quem mandou essa ignorante classe C só gostar de filmão vulgar de Hollywood, né? Se o público ainda não reconheceu a superioridade dos filmes autorais que passam no Belas Artes (ele não tinha falido?), alguém não está sendo punido o bastante!
Enquanto isso, filmes brasileiros com atores famosos não conseguem nem mil espectadores em todo o país. Pela lógica da Ancine, precisamos impedir essa obscenidade; tudo menos deixar que as pessoas assistam o que quiserem.
*A menção desonrosa da vez vai para a distribuidora, que também adora um mercado mais amarrado, e que já vislumbra uma ajudinha da Ancine para "crescer o parque exibidor" em troca desse apoio.
por Joel Pinheiro da Fonseca
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