domingo, 2 de janeiro de 2011

O Ano Passado em Marienbad - Alan Resnais

Domingo, dia 31 de Outubro de 2010, 17:49.
Hoje não é um dia comum, é dia de votação, é a "festa da democracia".
Mas não é disso que eu quero falar.
Acabei de assistir o filme "O Ano Passado em Marienbad", um filme francês dos anos 60, de Alan Resnais, diretor conhecido da Nouvelle Vague.
Não conhecia nada desse movimento, só conheci Jean-Luc Godard e mais nada.
A idéia de assistir esse filme não partiu de mim, e sim, de um amigo meu do Museu da Imagem e do Som, Orestes, que conhece muito da sétima arte.
Tudo começou quando ele me pediu para baixar o filme para o curso de cinema que ocorre lá.
Em uma simples conversa casual, explicou a importância desse filme para história do cinema e como seria importante que eu conseguisse o filme para o curso.
O Orestes é uma figura muito interessante, e uma amizade muito preciosa para mim.
Ele trabalha como historiador no Museu da Imagem e do Som de Campinas, e é professor de História no ETECAP (Escola Técnica Estadual "Conselheiro Antônio Prado").
Figura presente em todas as exibições de filmes no Museu, ele está sempre fazendo comentários interessantes a cada momento em que pede a palavra.
Ele é FODA.
Digamos que devo a ele o meu interesse por esse cinema, digamos, mais artístico e autoral.


Bem, chega de jogar confete, vou comentar sobre o filme.
Confesso que não sou a melhor pessoa para tecer algum comentário de alto nível sobre essa obra.
Vou contar apenas minhas impressões, e do que andei lendo por ai.


O Ano Passado em Marieband é um filme que se passa todo em um luxuoso hotel, em que "um estranho narrador" que quer convencer uma mulher casada, o qual ele supostamente já conhecia, a fugirem juntos.
Descrevendo parece um simples filme sobre um triângulo amoroso.
Ledo engano.
O filme trabalha muito a memória e a imaginação.
Esse estranho narrador está sempre perseguindo essa mulher pelo hotel, tentando fazer ela lembrar de que eles já estiveram juntos no ano passado.
A mulher, não se lembra do ocorrido, ou pelomenos finge que não lembra, pois ao mesmo tempo que se sente atraída pelo misterioso homem, tenta repeli-lo a todo custo, chamando-o de louco.
É isso que intriga no filme, o que aconteceu entre os dois nunca fica claro.
O presente, o passado e a imaginação se dão sempre no mesmo espaço, que é o hotel.
Outra coisa intrigante no filme são os cortes secos, e a falsa idéia de continuidade espaço-temporal.
Temos por exemplo uma cena onde a mulher aparece vestida de preto em uma sala, se vira para a câmera e está de camisola branca em um quarto, se vira novamente e está com um novo vestido.
A precisão do diretor é tamanha que você nem se da conta da mudança, e é literalmente pego de surpresa.
As vezes essa mudança espaço-temporal se dá no meio de algum diálogo.
Talvez a idéia do diretor é bagunçar essa nossa percepção mesmo, trabalhar o cinema como trabalha nossa memória.
Agora, mais do que nunca, eu entendo porque a Nouvelle Vague é um movimento de vanguarda artística, onde o perfil do diretor é a própria assinatura do filme.
Não tinha visto nada parecido no cinema.
A narrativa do filme em diálogo com o movimento de câmera é outro ponto muito curioso do filme, que me instigou muito.
A câmera durante quase todo filme vai fazendo um "travelling" dentro da mansão, mostrando seus ornamentos, suas estátuas, seus móveis, e seus hóspedes totalmente estáticos.
A narrativa do filme se foca muito na descrição física daquele grande palacete, sempre enfatizando o vazio e a solidão. As pessoas estáticas se confundem com os objetos da mansão, são peças meramente decorativas, "sem alma", como uma mobília ou um lustre.
Um belo exemplo de representação não naturalista.
Os detalhes do filme são incríveis, ricos, nem me atrevo a descrevê-los, para falar deles com maior autoridade deveria assistir novamente.
O filme não é apenas sofisticado, é incrivelmente belo; cada cena, cada pose é um verdadeiro quadro.
As composições de cada cena são simplesmente perfeitas, tanto em simetria, quanto em iluminação, posição da câmera.
É simplesmente a melhor trabalho de fotografia que já vi no cinema.
As imagens não me deixam mentir.





Bem, acho que deu para entender do que estava falando.
O Ano Passado em Marienbad é um filme obrigatório não apenas para quem gosta de cinema, mas também para quem gosta de fotografia.

Para concluir esse post, vou postar aqui o video-clipe que a banda "Blur" fez inspirado no filme.
O vídeo é bem legal, a banda reproduziu as cenas e o clima do filme com perfeição.

Ps:
A porra da EMI não deixa eu incorporar o video no post do blog diretamente, vocês tem que assistir diretamente do youtube.

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